Vida: o grande jogo de fantoches
Se a vida vale a pena a ser vivida,
para tal, qual felicidade deve ser adquirida? Como obter da felicidade a melhor
medida? Devemos nos imbuir com elevadas expectativas?
Nessa comédia e tragédia da vida,
devemos participar dela como espectadores
e atores ao mesmo tempo, por que a maior
comédia é a busca da felicidade, pois por ela sempre nos esforçamos em ser algo para os outros, findando nos perdendo de nós mesmos.
Voltando-nos contra nós mesmos até, pois o Ter nos tem, como se nada de nós
mesmos em nós houvesse, tendo-nos a nós
como se não tivesse. Não podemos escapar de nós mesmos e nem muitas vezes
impedir que nos arrastem para o mundo das posses e para o mundo dos outros.
Eis o espinho mais doloroso, o mundo
dos outros inseridos dentro de nós. Espinho fincado em nossa própria carne,
sofrimento sangrado, que necessita ser extirpado, arrancado.
Assim a sociedade é esse antro de
inautenticidades, sem compaixão, sem pudor e detentora de uma superioridade, mas
que por meio dela nunca se obterá a felicidade, porém apesar da sociedade. Não
podemos deixar de estar nesse jogo, mas que o façamos com o devido
ceticismo e desencanto, invertendo
apostas e conferindo tão pouco crédito aos resultados desse jogo, o quanto nos
seja possível.
É viver “como se”, melhor técnica a
ser utilizada nesse jogo da vida, pois quer queiramos ou não, cada um de nós
temos que participar do “grande jogo de fantoches” que é a vida, porém, mas
conscientes dos fios que nos movimentam, pois assim podemos observar o teatro
em sua totalidade, por que ora estaremos no palco, ora estaremos na plateia, e
assim, pela autopercepção, nos contemplaremos como atores e como espectadores.
Desta forma, pelo arejamento da lucidez, poderemos saber quando
nosso eu acontece por si mesmo,
permitindo-se que se realize sozinho, por que essa lucidez nos fará perceber
que na vida habitual de todos os dias, não somos, de forma alguma, a mesma pessoa
dos momentos mais elevados da nossa existência, de nossas potencialidades.
Muitas vezes eu mesmo me assombro
sozinho com certas coisas que faço, porém procuro não mesclar o eu que faz com o eu que observa o que faz,
pois ambos, apesar de estarem em mim, o eu que representa, o que atua, o que
executa as minhas potencialidades, não pode apoderar-se de minha personalidade,
do meu eu real e habitual. Que é aquele meu eu comum, do dia-a-dia, da
intimidade, de minha particularidade com suas falhas, defeitos, erros e
acertos. Em suma, do meu eu humano, demasiadamente humano.